Só para relaxar......

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3 de abril de 2011

Hidrofobia

Medo de água - Aquafobia - Hidrofobia é a aversão mórbida a líquidos. Sua causa pode ser psiquiátrica ou virótica, quando então, extensiva e impropriamente é sinônimo da raiva (doença), da qual é apenas um sintoma.
Hidrofobia: quando o medo da água se torna doença. O medo da água é mais comum do que se imagina, mas pode ser superado com a ajuda de profissionais especializados como Mauricio Erreria de Goes
Desde os tempos primórdios o homem cultiva um certo temor em relação à água. O medo é explicado pelo fato de ser ele um animal terrestre e o meio líquido um ambiente totalmente diferente do seu hábitat. Mas esse medo pode ser interpretado de diferentes formas. Para uns, o sentimento tem uma conotação de prudência ou salvaguarda, enquanto para outros é encarado como um desafio a ser vencido.
Porém, há pessoas nas quais esse sentimento é exacerbado, tornando-se um obstáculo ao convívio com a água. Em alguns casos, chega a ser descontrolado, o que então caracteriza uma grave fobia, no caso da água, uma hidrofobia.

“A fobia é o medo patológico. Quando em contato com o objeto fóbico, o indivíduo entra em pânico e tem uma intensa crise de ansiedade, com manifestações físicas como taquicardia, sudorese, vertigem, respiração acelerada. Com isso, a tendência é a pessoa se esquivar desse objeto”, comenta o psiquiatra e psicoterapeuta Geraldo Possendoro, especialista em ansiedade e professor do curso de especialização em psicoterapia cognitivo-comportamental da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp.

Segundo ele, o medo é um sentimento inerente ao ser humano, que nasce preparado para afastar-se de situações que não condizem com sua natureza. “Trata-se da teoria do preparo, na qual o organismo seria filogeneticamente – pela evolução natural – preparado para afastar-se de estímulos perigosos”, afirma.

No início da vida, ainda na fase fetal, a familiaridade do ser humano com o meio líquido é total em virtude do intenso contato com a água durante a gestação. Após o nascimento, essa relação se desfaz e, com o passar do tempo, a submersão na água passa a ser algo estranho ao organismo.

“O homem não domina o meio aquático, por isso evita naturalmente a água, mesmo não sendo um caso de fobia”, argumenta o professor da academia Albatroz -SP, Lula Feijó, que desde 1989 desenvolve um programa com aulas especiais de natação chamado Nadar Sem Medo, voltado a pessoas que têm medo de água, fóbicas ou não.

Graduado pela Faculdade de Educação Física de Santo André – Fefisa/SP e watsuterapeuta nível III, além de ex-nadador e campeão brasileiro pelo Sport Club Corinthians Paulista, Feijó salienta que o medo é saudável quando dosado, cumprindo a função de um alerta emocional que tem por objetivo preservar o indivíduo. Já a fobia ele define como um medo irracional, a ponto de a pessoa nem querer superá-lo. “Fobia é um medo desproporcional à ameaça real. O medo de água é saudável, já o medo de fotos de água é fobia”, compara.

RAÍZES DA FOBIA

Possendoro cita três teorias como as principais razões pelas quais uma pessoa pode desenvolver fobia em relação à água ou outros estímulos. A primeira é a teoria do preparo, na qual o ser humano nasce com um senso natural de perigo – no caso o medo –, desperto em determinadas situações. Esse senso de perigo seria hiperativo em algumas pessoas, o que caracterizaria um medo excessivo, fora de controle no caso da fobia, podendo ocorrer frente a um ou mais estímulos. A segunda, denominada teoria do aprendizado, diz respeito a pais ansiosos, que por excesso de zelo transmitiriam insegurança aos filhos. Estes, por conseqüência, poderiam desenvolver um medo exacerbado ou até mesmo alguma fobia. “Essas crianças tornam-se indivíduos frágeis, extremamente inseguros e propensos a fobias”, relata o psiquiatra.

Mas no caso do medo em relação à água, a teoria com maior incidência é a do trauma. São comuns os casos de pessoas que foram expostas a situações de perigo no meio aquático, muitas delas com risco de morte, o que acaba gerando um trauma. Por conseqüência, o indivíduo desenvolve um medo excessivo ou até mesmo uma fobia.

Pessoas que passaram por esse tipo de situação acabam evitando banhar-se em piscinas, no mar, mas há quem evite até mesmo o simples contato do rosto com a água. “Existe gente que não molha o rosto no chuveiro porque sente falta de ar, sente-se ansiosa”, comenta Feijó, dizendo que já lidou com diferentes casos de fobia em seu programa Nadar Sem Medo.
Para ele, os graus de medo ou fobia são variados e individuais, de acordo com o histórico da pessoa, de como ela enfrenta o problema e sua disposição de superá-lo. Porém, existem pessoas que sofreram traumas e nem mesmo se lembram do episódio. “Eu atendi o caso de uma senhora de 50 anos que estava aprendendo a nadar normalmente em uma piscina com mais de um 1 metro de profundidade e quando a coloquei em uma rasa de 40 cm ela entrou em pânico. Depois ela acabou se lembrando de que quase se afogou na banheira quando criança”, conta o professor. “Às vezes, o simples fato de o bebê escorregar das mãos da mãe e afundar na banheira é suficiente para despertar fobia”, acrescenta.

O próprio Geraldo Possendoro foi vítima de um trauma envolvendo água na infância, do qual também não se lembrava. “Meu pai conta que por volta dos dois anos e meio me soltei da mão de minha mãe e me joguei na piscina. Como não sabia nadar, afundei e engoli muita água. Se já havia em mim um preparo genético para evitar a água, o fato confirmou o medo e as estruturas cerebrais comprovaram que eu poderia morrer ao entrar na água”, relata o psiquiatra.

O fato, conta o professor da Unifesp, causou uma fobia que lhe impedia de submergir a cabeça na água. Mas o medo não o privava de entrar na piscina, tanto que aos oito anos foi matriculado na academia para aulas de natação, porém ele sempre limitava a água à altura do peito. “Morria de vontade de dar um mergulho, mas não dava”, lembra.

TRATANDO O MEDO

De acordo com Possendoro, o cérebro humano é reprogramável, aberto a experiências externas, o que torna possível a superação da fobia. No entanto, essa reprogramação deve ser feita com o consentimento da pessoa, de forma segura e tranqüila, para que não seja uma – ou mais uma – experiência traumática. Um dos métodos mais utilizados no tratamento de medos e fobias é o processo de dessensibilização sistemática, criado na década de 1950 pelo psiquiatra sul-africano Joseph Wolpe.

Basicamente, o processo prevê a exposição da pessoa ao objeto desencadeante da fobia de forma lenta e gradual. “Em um primeiro momento, o indivíduo evita, mas, depois, a prática torna-se prazerosa e ele passa a controlar a situação”, sustenta Possendoro, que em três meses conseguiu vencer seu medo por meio do método.

Em muitos casos, diz o psicoterapeuta, a fobia, quando branda, pode ser curada espontaneamente por meio da dessensibilização. Entretanto, ele ressalta que, em casos mais graves, o tratamento adequado deve ser feito por um psicólogo, ou até mesmo um psiquiatra, e complementado pelo trabalho desenvolvido na piscina por um instrutor de natação especializado. “Em hipótese alguma se deve tentar dessensibilizar uma pessoa jogando-a na água à força”, alerta, explicando tratar-se de um método totalmente primitivo e perigoso, pois só fortalecerá a fobia, além de colocar a vida da pessoa em risco. “Essa atitude só demonstra a falta de compreensão das pessoas do que é a fobia”, complementa.

A adaptação da pessoa fóbica na água deve acontecer sem nenhuma imposição, da forma mais natural possível, pois só assim há condições do medo ou fobia ser superado. “No começo, a pessoa só tomará um banho de piscina. Às vezes fica só com os pés na água, sem nenhuma imposição”, conta o professor Lula Feijó, explicando que esse trabalho é feito normalmente em piscina rasa e água aquecida para tornar o meio líquido o mais confortável e acolhedor possível. “A água aquecida relaxa e deixa a pessoa mais calma”, argumenta.

Para ele, a maior dificuldade na superação do medo em relação à água está na submersão da cabeça, que é o centro nervoso do corpo. O primeiro passo, após ambientação inicial, é aprender a controlar a respiração e a lidar com pressão para não permitir a entrada da água nos orifícios da cabeça. O segundo o passo é aprender a boiar. “Controle da respiração e flutuação são a essência da natação. Depois vem a propulsão – deslocamento. Aí a pessoa já parte para a aula de natação propriamente dita”, afirma.

Mas para de fato vencer o medo, a pessoa precisa tornar-se auto-suficiente e aprender a sobreviver na água quando não houver possibilidade de ficar em pé ou segurar-se em algum lugar. Essa auto-suficiência, segundo Feijó, pode ser conquistada dominando três aspectos. O primeiro é a flutuação, de frente e de costas. “A flutuação de costas é a única forma de descanso na água, pois a pessoa consegue boiar e manter o nariz e a boca fora da água”, ressalta.

O nado de sustentação na vertical é o segundo e consiste no palmeado lateral com as mãos, aliado ao movimento de pernas estendidas, mantendo a cabeça fora da água. E o terceiro aspecto é o popular nado cachorrinho, que possibilita um deslocamento seguro, sem a necessidade de afundar a cabeça na água. No entanto, Feijó explica que o método não tem por objetivo fazer com que o medo desapareça por completo. “Apenas é baixado o nível de prudência, pois o medo é um balizador das ações da pessoa”, justifica.

MULHERES X FOBIA

Pesquisas apontam que as mulheres têm maior propensão a desenvolver fobias que os homens. No caso do medo de água, a faixa etária com maior incidência está entre os 40 e 60 anos e grande parte dessas mulheres apresenta algum histórico traumático, de acordo com Feijó. “Quando a pessoa deixa para aprender a nadar na fase adulta é porque está evitando por algum motivo”, comenta. Outro motivo ressaltado pelo professor é que há alguns anos o número de escolas de natação era pequeno em relação ao atual, por isso o esporte era pouco acessível. “De algumas gerações para cá, a prática do esporte se popularizou e ficou mais acessível. Por isso o número de pessoas com medo de água está diminuindo. Mas sempre haverá casos de trauma”.

A aposentada Nadir Cintra Brancalion, de 81 anos, confirma as estatísticas sobre o medo e as mulheres. Ela ingressou recentemente no curso Vencendo o Medo da Água promovido pelo Sesc São Paulo, no qual mulheres na faixa etária a partir dos 40 anos são maioria entre os participantes que buscam superar o temor. Dona Nadir quer vencer o medo adquirido na adolescência, fruto de um trauma. Sócia do Clube de Regatas Tietê, aos 16 anos, ela participava de uma aula de natação, na época realizada no próprio rio Tietê, quando passou por apuros. “Naquele tempo, a gente aprendia a nadar com o instrutor puxando uma corda presa em nossa cintura. Só que na hora que ele puxou eu não estava pronta, porque a corda ainda não estava presa. Então eu afundei e acabei pegando medo”, relata a aposentada, que freqüenta a unidade Pompéia do Sesc São Paulo.

Não um trauma, mas um medo difícil de superar foi o que levou ao mesmo curso a dona de casa Márcia Vidal, de 42 anos. “Eu queria aprender a nadar, mas sempre tive um pouquinho de medo de acontecer alguma coisa na água e eu não conseguir me virar”, conta Márcia, que não entrava nem em piscinas rasas. Ela diz que anos atrás tentou vencer o medo com aulas de natação comuns, mas acabou desistindo. “Não havia o preparo que nós temos aqui, essa adaptação nos mínimos detalhes”, comenta.

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