O ressurgimento do vírus tipo 4 da dengue no país abre precedente para mais uma epidemia da doença no Brasil, segundo os especialistas consultados pelo R7. Em todo o país 34 pessoas já foram infectadas pelo vírus – Amazonas (11 casos), Pará (3), Bahia (2), Piauí (1), Rio de Janeiro (2) e Roraima (15, sendo 11 em 2010 e 4 em 2011), desde o retorno do vírus ao país, em agosto de 2010. Neste ano, 23 casos foram notificados, e, em 2010, 11, em números do Ministério da Saúde. Esse tipo de vírus não era registrado há 28 anos no país, mas voltou a circular em agosto do ano passado. Isso serviu de alerta para as autoridades de saúde, pois boa parte da população brasileira, pessoas abaixo dos 30 anos, em especial crianças e jovens, não tem imunidade contra esse vírus.
O vírus 4 da dengue atua como os demais em circulação (1,2, 3 ), que apresentam os mesmos sintomas – dores de cabeça, no corpo e articulações, febre, diarreia e vômito – e devem ser tratados da mesma forma – repouso e hidratação.
De acordo com Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, infectologista da USP (Universidade de São Paulo), é uma questão de tempo até que essa variação da dengue cause uma epidemia. Para evitar que isso aconteça, ele diz que é necessário realizar medidas que barrem esse vírus nas regiões onde foi detectado.
- Mas acho difícil fazer esse controle. É uma questão de tempo para que esse vírus se espalhe para outras regiões e cause uma epidemia.
O médico explica que, como o vírus ficou tanto tempo sem circular no país, ele encontra por aqui condições que tornam mais fácil sua disseminação.
- O tipo 4 é igual aos outros, mas tem essa vantagem de encontrar a maior parte da população suscetível.
O médico afirma ainda que, apesar de atualmente ter mais facilidade para se espalhar, o tipo 4 da dengue não é mais perigoso que os demais.
Já para o infectologista Gustavo Johanson, da Unifesp, os casos notificados pelo país já indicam uma epidemia. Segundo ele, só pelo fato de ter ressurgido sem expectativa das autoridades de saúde, pode ser encarada como tal.
- O conceito de epidemia não é numérico, significa o aumento do número de casos esperados. A gente pode ter epidemia de um. Um lugar que não tem determinada doença, se aparecer um caso a gente diz que é uma epidemia, obviamente com uma relevância pequena.
Perigo de dengue hemorrágica
Johanson alerta que a maior preocupação acerca do novo vírus é o poder que ele tem de causar o tipo mais grave da dengue.
A infecção pelo vírus 4 em uma pessoa que já foi infectada pela dengue aumenta as chances do doente adquirir a forma hemorrágica da doença, que pode matar. Isso acontece por um efeito do próprio sistema imunológico que não consegue combater o vírus.
- Quando o vírus entra no organismo, ele estimula a imunidade. Mas, mesmo sendo estimulada, a imunidade não consegue proteger o organismo de outro tipo de dengue, cuja imunidade já teve de trabalhar contra. Essa estimulação causa uma reação inflamatória que promove hemorragias e extravasamento de líquido dos vasos sanguíneos, sintomas da dengue hemorrágica.
Outro lado
O Ministério da Saúde não nega as afirmativas, mas se ampara em informações internacionais que, segundo nota passada ao R7, dizem que “o sorotipo DENV-4 não tem tido a capacidade de produzir epidemias explosivas ou com grande número de casos graves, nos países onde ele circula de forma predominante, como a Venezuela e países do Caribe”. No entanto, o Ministério confirma a informação de que há parte da população vulnerável ao vírus.
- Mas é fato que, como o DENV-4 não circulava no Brasil há quase 30 anos, a população do país está vulnerável a ele. Isso porque quem tem dengue cria imunidade apenas para o sorotipo viral que se infectou. Ou seja, quem teve dengue tipo 1 nunca mais será infectado pelo DENV-1. Mas poderá contrair os outros três sorotipos. Somado a isso, o fato de que este sorotipo só circulou no Norte do país e há quase três décadas, aumenta a possibilidade de ele ser detectado em outros estados onde há transmissão de dengue.
Diante dessa realidade, o Ministério afirma que desde julho do ano passado alertaram todas as secretarias municipais e estaduais do país sobre a necessidade de reforçar as ações de vigilância epidemiológica, controle do vetor (mosquito) e assistência adequada aos pacientes.
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